quinta-feira, 27 de fevereiro de 2014

Princípios norteadores do Plano do Distrito Federal do Livro e da Leitura (PDLL)

O Plano do Distrito Federal do Livro e da Leitura (PDLL), publicado em 2012, tem como objetivo "democratizar o acesso aos bens de leitura em todas as suas dimensões e aos espaços culturais do Distrito Federal pela ação permanente da Política Pública, de modo a mantê-los vivos, com uma pauta contínua de atividades a serviço das comunidades que os acolhem".



Esse plano se baseia em princípios norteadores que representam os pressupostos básicos sobre os quais o Plano se assenta, tendo sido construídos e sintetizados a partir dos princípios expressos no Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL) e nas concepções teóricas explicitadas por Paulo Freire. O interessante é a abrangência de segmentos que se busca atingir, como por exemplo, sistema prisional, letramento informacional e construção de sentidos. Segue abaixo os princípios:

Princípios
Concepções teóricas
Leitura e Escrita como Práticas Sociais e Culturais
A leitura e a escrita são a expressão do esforço de interpretação dos amplos contextos da vida e a manifestação da diversidade humana, são partes distintas, mas inerentes a um mesmo fenômeno.
Cidadania e Direitos Humanos
A leitura e a escrita são direitos de todos e constituem condição necessária à construção de uma sociedade democrática e plural, asseguradora do exercício dos direitos fundamentais e promotora de cidadania.
Diversidade Cultural
A leitura e a escrita são fundamentais para desenvolver plenamente o potencial de expressão dos indivíduos, bem como a liberdade para fazê-lo, favorecendo toda a sorte de intercâmbio cultural, o alcance de níveis educativos mais elevados, e o desenvolvimento social e econômico.
Construção de Sentidos
A leitura é concebida como um ato criativo de construção de sentidos, que vai muito além da mera capacidade de decifrar os códigos da escrita e os caracteres. É, na verdade, um processo complexo de compreensão e produção de sentidos, sujeito a variáveis de ordem social, psicológica, fisiológica, linguística, entre outras.
O Verbal e o Não-Verbal
A palavra escrita possui importância central, contudo, não é desconsiderada a validade de outros códigos e linguagens, como as da tradição oral e das novas textualidades que surgem com as tecnologias digitais.
Tecnologias e Informação
A leitura precisa ser tratada dentro do diálogo com as variadas tecnologias de gravação, entre as quais está situado o livro.
Biblioteca com Dínamo Cultural
A biblioteca assume a dimensão de seu um dinâmico polo difusor de cultura e informação, aqui compreendida como um lugar cujo significado vai muito além de um simples depósito de livros ou uma mera sala de leitura. Ela deve existir enquanto centro de educação continuada, núcleo de lazer, lugar de cultura, incentivando a perene criação e a completa fruição dos diversos bens artístico-culturais.
Literatura
É extenso o universo de possibilidades de textos que podem servir ao trabalho com a leitura. No entanto, os textos literários atraem sobre si uma atenção especial devido ao enorme potencial de contribuição para a formação do leitor. A literatura é capaz de atender à enorme necessidade de ficção e fantasia humanas, possui natureza formativa e profunda capacidade afetiva, e pode oferecer aos seus leitores um conhecimento mais íntimo e complexo do mundo.
Educação de Jovens e Adultos
Considera-se imperativo criar condições favoráveis de acesso ao livro e à leitura para jovens e adultos que não tiveram acesso à educação básica ou que tiveram, mas de forma intermitente ou mesmo interrompida.
Necessidades Especiais
É fundamental garantir que pessoas com necessidades especiais tenham acesso a livros e outros materiais de leitura, buscando valorizar a publicação das obras em libras e em braille, bem como sua disponibilização nas bibliotecas públicas e escolares.
Leitura para a Liberdade
É indispensável a garantia de que as pessoas privadas de liberdade tenham acesso ao livro e à leitura. A ampla circulação do livro e a real prática da leitura no sistema penitenciário do Distrito Federal são um canal possível e fecundo de ressocialização dos presos e transformação do ambiente prisional.
Meios Educativos
Defende-se a produção de meios educativos, sejam livros, periódicos e demais materiais, que atendam às especificidades dos diversos públicos. O Plano busca assegurar o acesso a bens culturais produzidos em diferentes linguagens e suportes, sobre temas diversificados, gerados em diferentes contextos culturais, para leitores de diversas faixas etárias, sejam eles estudantes, professores, bibliotecários e demais membros da comunidade escolar.
Letramento Informacional
Acredita-se numa perspectiva de ensino-aprendizagem fundamentada nos processos cognitivos e sociais que possibilitem o desenvolvimento das capacidades de busca e uso da informação, mediante a construção de projetos de investigação em sala de aula e em bibliotecas públicas e escolares, superando as formas tradicionais de ensino e aprendizagem, que privilegiam o uso predominante dos livros didáticos, exposições orais e memorização mecânica.
Estado da Questão
Políticas públicas para as áreas da leitura, do livro, da biblioteca, da formação de mediadores e da literatura devem ter como ponto de partida o conhecimento e a valorização do vasto repertório de debates, estudos, pesquisas, contribuições e experiências diversas sobre a forma mais efetivas de formar leitores e promover a leitura e o livro, existentes na esfera municipal, estadual e nacional, implementados tanto pelo Poder Público como pelas organizações sociais, atentando-se ainda, para o contexto internacional.
Políticas Públicas
Defende-se a produção de meios educativos, sejam livros, periódicos e demais materiais, que atendam às especificidades dos diversos públicos. O Plano busca assegurar o acesso a bens culturais produzidos em diferentes linguagens e suportes, sobre temas diversificados, gerados em diferentes contextos culturais, para leitores de diversas faixas etárias, sejam eles estudantes, professores, bibliotecários e demais membros da comunidade escolar.
Integração
O Plano é integrado aos demais setores da administração (Cultura, Educação, Social, Meio Ambiente etc.), de modo a otimizar os esforços em prol da leitura e do livro no Distrito Federal.
Autores Locais e o Mercado
A política para o livro e a leitura deve considerar a criação literária e a promoção de autores locais, além de criar condições para que a produção de livros aconteça de forma cada vez mais eficaz, barateando os custos de produção e distribuição, eliminando gargalos e debilidades.
Cadeia Produtiva
O Plano busca contemplar as duas faces de um mesmo processo: tanto as questões que envolvem a leitura e a democratização de seu acesso, quanto o que se configura pelas dificuldades e desafios relativos à cadeia produtiva do livro, buscando evitar as polarizações entre Estado e Mercado.
Avaliação Contínua
São necessários mecanismos contínuos de avaliação do cumprimento de metas e execução dos programas e ações em curso de forma a monitorar e verificar o alcance das iniciativas e os resultados obtidos, permitindo ajustes e atualizações no processo.

Para saber mais do Plano, segue o link para acesso: http://www.cultura.df.gov.br/images/anexos/pdll.pdf

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

A contribuição da Psicologia na Biblioteconomia

A utilização de conhecimentos da Psicologia ajuda o bibliotecário na compreensão e melhoria de suas atividades voltadas para o usuário. Em 1980, foi lançado no Rio de Janeiro pela editora Calunga o livro "A contribuição da Psicologia para o estudo dos usuários da informação técnico-científica", organizado e traduzido por Hagar Espanha Gomes. O livro apresenta três artigos que abordam a aproximação cada vez mais significativa da Psicologia no ramo do conhecimento bibliotecário.

Referência:
GOMES, Hagar Espanha (Org.). A contribuição da Psicologia para o estudo dos usuários da informação técnico-científica. Rio de Janeiro: Calunga, 1980. 71 p. Série Ciência da Informação.


O primeiro artigo, de autoria de D. J. Foskett, intitulado "A psicologia do usuário", propõe uma ligação entre as atividades científicas de modo geral, a aprendizagem, formação de conceitos, memória, criatividade, interpretação, e o trabalho do Bibliotecário, a quem cabe, entre outras tarefas, a organização da informação para que a informação desejada esteja acessível ao usuário.

O Segundo texto, escrito por S. R. Ranganathan, intitulado "Psicologia e natureza do trabalho dos usuários" trata do comportamento dos cientistas e do comportamento diferenciado do profissional da informação frente as necessidades dos pesquisadores.

O terceiro artigo, de M. N. Pereira, H. E. Gomes, L. V. Pinheiro e R. M. Oliveira, intitulado "A aplicação da técnica do incidente crítico em estudos de usuários de informação técnico-científica: uma abordagem comparativa", demonstra a utilização de tecnologia oriunda da Psicologia do trabalho e adaptada à compreensão dos problemas diversos em unidades de informação.

É uma publicação muito interessante que mostra a aproximação e contribuição da Psicologia e da Sociologia na nossa área.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Serviço de Biblioterapia

Você conhece o Books on Prescription?

É um método biblioterapêutico usado pelo Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS), em que em vez de prescrições de remédios, são prescritos livros.


A defesa da técnica se justifica no fato de que os livros sobre regimes de prescrição são uma forma de Biblioterapia, que, quando os livros certos são utilizados, pode trazer muitos dos benefícios de medicação convencional, sem os potenciais efeitos colaterais associados às drogas, e muitas vezes consegue bons resultados de forma mais rápida.




Para saber mais sobre essa técnica, veja a reportagem: http://p3.publico.pt/cultura/livros/10404/doentes-depressivos-quotaviamquot-receitas-na-biblioteca

Books on Prescription: http://www.booksonprescription.org.uk/

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Projeto de Lei 4186/12

A Câmara dos Deputados, desde 2012, está analisando a proposta que estabelece o uso da biblioterapia nos hospitais públicos e naqueles contratados ou conveniados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A medida está prevista no Projeto de Lei 4186/12, do deputado Giovani Cherini (PDT-RS).

Para justificar o Projeto de Lei, o deputado afirmou que pesquisadores já recomendam o uso da leitura em tratamentos médicos desde o início do século XIX.

Neste Projeto de Lei, defende-se que os materiais de leitura com função terapêutica só poderão ser prescritos e vendidos após autorização específica do Ministério da Saúde. Os livros autorizados terão um selo com a inscrição: “Recomendado pelo Ministério da Saúde”.


Os familiares dos pacientes também poderão participar das atividades de biblioterapia, desde que após prescrição médica. O texto também autoriza a venda de obras biblioterápicas em farmácias, drogarias e livrarias.

Pode-se imaginar que a partir do Projeto, a atividade biblioterapêutica terá uma maior divulgação, mas será que essa proposta vai de encontro com os princípios de uso da biblioterapia? Será que sua utilização será eficaz?

O Projeto de Lei pode ser acessado na íntegra no link: http://bit.ly/1eYP0ux
Para acompanhar a tramitação do Projeto dentro da Câmara, acesse: http://bit.ly/1e2JzJQ

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Resultado da pesquisa sobre Biblioterapia

Dois produtos vieram da pesquisa de mestrado sobre Biblioterapia, uma dissertação e um artigo. Para quem tem interesse, disponibilizo abaixo os links para visualização, basta clicar no título. Espero que gostem!



GUEDES, M. G. A biblioterapia na realidade bibliotecária no Brasil: a mediação da informação. 2013. 189 p. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - Faculdade de Ciência da Informação, Universidade de Brasília, Brasília, 2013.

GUEDES, M. G., BAPTISTA, S. G. Biblioterapia na Ciência da Informação: comunicação e mediação. Encontros Bibli: revista eletrônica de biblioteconomia e ciência da informação, v. 18, n. 36, p. 231-253, jan./abr., 2013. ISSN 1518-2924. DOI:10.5007/1518-2924.2013v18n36p231

sábado, 24 de março de 2012

Bibliopsicologia

Na minha pesquisa sobre biblioterapia eu encontrei um termo curioso: bibliopsicologia (bibliopsychology). Inicialmente o considerei sinônimo de biblioterapia, um erro que muitos podem cometer. Esse termo surgiu dos estudos de Nicholas Rubakin. Seu conceito se fundamenta num fenômeno relacionado ao leitor e aos livros de seu interesse.

Fonte: Marcos Teixeira

O processo em si seria uma analise estatística da reação do usuário na leitura. Três situações são analisadas no processo: bibliopsicologia verbal, bibliopsicologia intraverbal e bibliopsicologia supraverbal que são etapas do entendimento do texto. A primeira fase seria o entendimento das palavras, a segunda fase se baseia no entendimento do contexto e a terceira fase estuda-se o aprendizado consequente do texto. Tais conceitos e processos relacionados a bibliopsicologia pode se relacionar a atividade biblioterapêutica na interpretação do texto.

A abordagem se torna interessante quando busca-se um estudo cientifico da psicologia cognitiva em se entender a leitura e como isso pode ser útil para a realidade bibliotecaria, no que diz respeito entender o usuário e disponibilizar a informação necessária. No livro "Nicholas Rubakin and bibliopsychology", publicado em 1968, mostra o estudo realizado e demonstra tanto sua fundamentação teórica quanto a avaliação realizada no processo.

O termo não foi mais utilizado desde então, nem achei nenhum outro estudo relacionado. Independente disso a leitura de suas teorias podem ser interessante para aqueles que gostam de aproximar a biblioteconomia e a psicologia como eu.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Uma receita para cada caso

Artigo sobre biblioterapia publicado pelo Correio Braziliense em 2010...


Correio Braziliense - DF, em 27/6/2010

A ideia de ler os livros certos e, de repente, ver seus problemas evaporarem é um tanto simplista. A bibliotecária e professora Maria Alice Borges alerta que uma escolha de títulos feita de forma inadequada pode não dar resultado algum. Para não correr o risco de errar na mão, ter sensibilidade para perceber as reais necessidades dos pacientes e o ambiente onde o trabalho está sendo feito é essencial.

Uma pessoa com tendências suicidas, por exemplo, não se beneficiará com leituras apenas sobre suicídio. “Você passa pelo tema, mas sob o ponto de vista de uma discussão, sabendo que nós poderemos chegar a uma situação igual a de outra pessoa que não tenha passado por isso.” Diferentemente de uma leitura banal, a biblioterapia busca dar informações sobre os problemas vividos e os resultados que se espera alcançar – que mudam dependendo do público-alvo abordado. “Se for em um hospital, você tem que ter uma literatura que não seja de reforço àquela dependência hospitalar, mas uma que mostre que aquela dependência é um período transitório para uma mudança”, ilustra a bibliotecária.

Ela explica que, quando o trabalho é feito com crianças abandonadas, por exemplo, o cuidado com os livros receitados deve ser redobrado. Para ajudar a minimizar os impactos da realidade já complicada em que vivem, os profissionais podem usar e abusar da imaginação. Das histórias com fantoches a livros de contos, o principal é minimizar as deficiências e reforçar a mensagem de que há sim uma realidade complicada, mas também alternativas para ela.

E foi para apontar alternativas a uma realidade triste que a bibliotecária Mariana Giubertti, 24 anos, resolveu se aprofundar no assunto.

Em 2009, a então estudante decidiu transformar a biblioterapia em projeto de conclusão de curso. Em um ano, Mariana mapeou e coletou dados em um orfanato, tendo como objetivo montar uma biblioteca infantojuvenil que usasse princípios da bilbioterapia. “Quis fazer isso não só para suprir as necessidades emocionais dessas crianças, mas para incentivá-las a ler, para que elas tomassem gosto por isso”, justifica.

O amor pela palavra impressa gerou não apenas o projeto de planejamento da biblioteca, mas também de uma brinquedoteca e de um ambiente de inclusão digital. A satisfação só não foi maior pela impossibilidade de ver tanto trabalho sair do papel. “Não pude aplicar o projeto porque o orfanato fechou”, lamenta Mariana.

A também bibliotecária Cristiane de Castro Pires, 22, teve mais sorte que Mariana. Assim como ela, Cristiane também elegeu a biblioterapia como tema principal de seu trabalho para se formar em biblioteconomia, no ano passado. Entretanto, o foco não eram crianças, mas pacientes com câncer. O primeiro passo foi, literalmente, fazer as devidas apresentações entre os pacientes e as obras. “Procurei livros que tinham imagens bonitas, porque muitos não sabiam ler ou não tinham o hábito ainda”, conta.
Quando a pesquisa acabou, veio a vontade de colocar a mão na massa.

Por enquanto, Cristiane conta que ainda está na fase de classificar os livros – todos vindos de doações.

“Quando a biblioterapia realmente começar, espero ter o auxílio de psicólogos e até de pacientes que gostam de ler e se disponham a ler para os outros”, diz. Segundo Sandra Bonfim Baptista, assistente social que também vestiu a camisa do projeto, a previsão é que o trabalho comece em julho deste ano. “A gente espera contribuir para que eles superem o tratamento e a dor da doença”, completa.

(Fonte: http://www.cultura.gov.br/site/2010/06/28/uma-receita-para-cada-caso/)